Sentimentos
- sulissidhe
- 27 de jan. de 2015
- 4 min de leitura
É incrivelmente dolorosa a constatação de que as pessoas podem te usar sem a menor compaixão.
Ter o conhecimento da falta de amor de pessoas que são do seu sangue pode ser a dor mais silenciosa e cruel de existir.
Neste momento é que nos mergulhamos em nós mesmos e percebemos o quanto a vida pode nos ensinar quando achamos que não tiraremos mais nenhum aprendizado de algum lugar...
Quanto mais conheço o ser humano, mais me envergonho de pertencer a esta raça e me pergunto por que o criador ainda nos preserva.
Tem dias que tudo é escuridão e que fica complicado respirar, até escrever se torna um mero escape para não explodir de vez.
O que fazemos aqui? Até quando seremos ruminados para depois sermos cuspidos? Tem mais sangue pra tirar desta alma?
Estou só o pó! Esta que se olha não se reconhece mais, esta que escreve não existe mais. O que sou nem sei mais, o que serei acredito que não importa mais. Estou cansada de ficar cansada. Estou esgotada de estar tão inconformada. Me indigno de tanta indignação.
Rubem diz que ostra feliz não faz pérolas... será que quero criar alguma pérola? Pra quem? Será que o mundo merece pérolas? Ao redor vemos a natureza nos presenteando a cada dia com espetáculos maravilhosos e o que fazemos com isso? Destruímos!
Temos o dom de destruir, muitas vezes temos o dom para construir, só para ter prazer de destruir depois. Descobrimos as partículas, descobrimos então a cura para muitos males para logo em seguida utilizarmos mais partículas para destruirmos o que foi criado e um pouco mais.
Neste momento sou escuridão novamente e me encontro em um túnel sem fim tateando sem esperanças de encontrar algo. Hoje tenho medo de focalizar em algo porque sempre há de se descobrir o que não se quer ver.
Minha alma é otimista, sei dentro de mim que não tenho vocação para o sofrimento... mas e quando não existe outra maneira de viver? Já me foi tirado tantas coisas e digo com toda sinceridade que se alguém imagina que tenho tudo olhando para a vitrine que se apresenta... falta o essencial. O que realmente importa me foi arrancado e o que não foi arrancado não é essencial e quando penso que me foi dado algo precioso, eis que vem mais uma surpresa e me mostra que na verdade aquilo é bolor.
Tristeza é algo que acontece sem que seja visto por olhos insensíveis. A tristeza só é vista por olhos sensíveis e quando se está cercada por individualidade e egoísmo o mundo fica cego, surdo e mudo.
Carinho é substituído por interesse, respeito substituído por indiferença e por vazio... assim ficamos prostrados com fome e sede de vida. Com fome e sede de qualquer demonstração de afeto. Morrendo de inanição em meio à fartura aparente.
Saudade do meu bem. Saudade do meu amor que saiu... saudade de parte de mim que já virou mim em minhas veias e minha alma, saudade do meu bem que me faz bem e em bem me faz olhar.
Existem dores que não merecem serem compartilhadas, são feridas que nunca se fecharão!
E quando o jejum é de sentimentos? Se faz jejum de alimentos, de líquidos, de palavras, de ações... e os sentimentos? Talvez fazer este jejum seja um dos mais difíceis...
Coração bate, corpo respira e alma reverbera... como lidar com tantas emoções? Como suportar essa dor de viver. Nos acostumamos com a dor de estar vido desde a hora do nascimento e vamos aprendendo ou nos moldando as dores no decorrer deste viver. Nos enganamos o tempo todo na alegre falsidade de nos mostrarmos felizes. Mas morremos aos poucos todos os dias, cada dia a mais é um dia a menos, cada ponteiro avançado é um espaço a menos e o tempo é implacável. Se erramos, erramos! Palavras ditas não voltam atrás, já dizia o sábio. Ações tomadas também. Sejam elas boas ou ruins só andam pra frente, o que anda para trás é a culpa, o remorso...
Escrevo palavras desconexas buscando um pouco de conforto e também para que meus pensamentos se organizem. Quantas vezes desenhamos monstros em nossas mentes e quando colocamos nossos pensamentos para fora vemos que são infundados, exagerados e tem até uma certa partícula de comédia.
De certa forma aprendi a rir da minha desgraça, assim vou conseguindo viver.
Para tantos sou uma pessoa de sorte.
Será que os outros só conseguem olhar direito para aquele que sempre se lamenta e conta suas loucuras aos quatro ventos? E aqueles que são mais tímidos sobre seus sentimentos? Aqueles que não costumam ficar espalhando suas dores, frustrações, sentimentos. Aqueles que por dentro são explosão e por fora não conseguem transmitir suas dores. Olho agora e vejo que estas pessoas são dotadas de uma compaixão enorme. Afinal, quem merece ficar ouvindo lamentações? Nossos próprios lamentos já são tão dolorosos, porque compartilha-los? Haja martírio para quem ouve. Viver a própria vida já é um fardo, acho que é por isso que em algum lugar na maioria dos livros sagrados esses grandes sábios escrevem sobre resiliencia. Pois é... ser resiliênte, aceitar sua própria sorte sem lamentar e agradecer sempre... quem sabe um dia o sádico que fere sua alma se cansa um dia e tira o foco da sua dor. Se viver é morrer a cada dia, pois que assim seja, assim morro neste viver de cada dia e assim sei que cada sofrimento é menos um. Começar a pensar ao contrário. Quem já não se viu obrigado e fazer determinada tarefa e depois da metade pensou: “Só falta metade” o compromisso fica mais leve não é?
Se for pensar já passei dos quarenta, portanto na melhor das hipóteses, falta menos da metade... se consegui até agora então poderei conseguir daqui pra frente também, afinal, falta menos que a metade...
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